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Carona Amiga

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O  forte swell deste início de semana na praia da Joaquina em Florianópolis e uma visita à Laje de Jaguaruna poucos dias atrás me fizeram refletir um pouco sobre os caminhos do surf de ondas grandes nos últimos tempos e para onde ele parece seguir.



Desde a popularização do surf rebocado a partir do final dos anos 90, a relação dos surfistas com as grandes ondulações ganhou uma nova dinâmica. De um lado, a possibilidade oferecida pelas motos aquáticas de finalmante surfarmos lajes distantes da costa e entrar em ondas cuja dimensão e velocidade suplantavam a força da remada comum. Do outro, a banalização do tow-in, com o ronco barulhento dos motores dos jets e suas marolas com cheiro de óleo impregnando os line-ups em ondas não tão grandes assim, despertando a ira da galera que entrou pra surfar na remada.




"A regra de segurança é basica: onde tiver alguém surfando de remada na costa, não pode haver ninguém fazendo tow-in", afirmou a mim há alguns anos o experiente big rider Rodrigo Resende, quando questionado sobre o perigo dos jets zanzando perto do crowd.

Mas a verdade é que muitas vezes o critério de avaliação sobre qual tipo de condição é mais propícia para tow-in ou o surf de remada será subjetivo, já que muitas vezes, mesmo varando a arrebentação, os surfistas na remada não conseguem surfar pra valer as maiores e melhores ondas em um determinado mar.


Esta premissa ganhou ainda mais corpo nos últimos tempos, já que o surf de remada  alcançou um novo patamar, juntando a evolução dos equipamentos e o impeto cada vez mais destemido dos surfistas que se dedicam quase que exclusivamente a dropar as maiores ondas do planeta - o advento do surf de remada em Jaws é talvez o melhor exemplo disso. Neste cenário, os jet-skis sairam de moda, perdendo cada vez mais espaço no outside, embora permaneçam com valioso item de segurança para a modalidade em dias extremos.


Mas afinal de contas, o jet-ski é herói ou vilão nesta história? Na barca realizada para a Laje da Jagua, a convite de Thiago Jacaré de Atow-inj e com a participação de duplas de tow-in de Garopaba e da Guartda do Embaú, o swell não entrou com a intensidade esperada e a onda de alto mar quebrava menor do que as que tivemos que varar na própria costa.


Assim, foi interessante observar nas conversas do grupo a disposição de alguns em encarar as ondas da laje na remada e em pranchas de stand-up-paddle (foto acima), em sintonia com a valorização desse tipo de abordagem em detrimento do tow-in. Seja como for, teremos sempre a presença dos jet-skis como ferramentas essenciais para se chegar a picos a Laje da Jagua e surfar as suas ondas oceânicas, localizadas à quilometros da costa.


Dias depois, o swell entrou pra valer e a praia da Joaquina em Floripa oferecia o seguinte cenário:  ondulação de sudeste com séries acima de 8 pés e pouco vento. No line-up, uma boa leva de surfistas de remada no canto esquerdo conviviam em harmônia e espírito colaborativo com algumas duplas de tow-in que surfavam mais para o meio da praia.



Quem se aventurava a tentar entrar no mar na remada pela praia era quase sempre varrido  impiedosamente de volta para a areia. Os mais destemidos se jogavam das pedras cortando um valioso caminho para o outside, mas correndo o risco de ser jogado contra as rochas pelas espumas que explodiam no costão, onde uma pequena multidão se aglomerava para curtir o espetáculo das ondas. Na praia, uma outra leva de surfstas aguardava a boa vontade de alguns pilotos dos jet skis para conseguir uma carona até o outside, sem o esforço e o desgaste da remada.



E assim, em um pico como a Joaquina, onde não existe propriamente um canal para se varar a rebentação, a presença dos jet-skis ao invés de atrapalhar a vida dos surfistas de remada, funcionava como uma verdadeira tábua da salvação para os muitos camaradas que só conseguiram surfar as enormes paredes de água graças a ajuda das motos aquáticas que os levaram até o outside, por entre as espumas e a forte corrente .

Talvez algum big rider mais purista tenha ficado chateado em compartilhar um line-up de ondas de responsa com dezenas de outros surfistas que só estavam lá graças a ajuda dos jet-skis. E assim, parece que enterramos de vez o tempo em que o extraordinário esforço da remada e a coragem de se jogar das pedras ditavam quem podia ou não surfar num mar épico. O tempo em que o oceano oferecia uma seleção natural para um seleto grupo de surfistas destemidos poderem saborear a recompensa de surfar ondas gigantes e sem crowd. 

Fotos na praia da Joaquina e Laje da Jagua por Surf & Cult. 
Proibida a reprodução das fotos sem citação com link para esta matéria.




O Sal de Lisboa

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Com programação entre os dias 14 e 17 de junho, o SAL - Surf At Lisbon Film Fest é o primeiro festival internacional em solo português dedicado exclusivamente à cinematografia de surf.

Tive o privilégio de ter o meu documentário Pegadas Salgadas selecionado para ter a sua estréia mundial neste evento, que reúne alguns dos melhores títulos do gênero, exibidos no tradicional Cinema São Jorge, situado na região central da histórica capital portuguesa.

Por trás desta valiosa iniciativa, estão os arquitetos lusitanos Ricardo Gonçalves e Luís Nascimento, - além do brasileiro Augusto Baião -, dois colegas de turma que deixaram de lado as pranchetas para se dedicarem ao desejo de promover a paixão comum de mais de 25 anos pelo surf e suas manifestações culturais.

O cuidado dispensado em todas as questões de curadoria e conteúdo ligadas ao festival, não deixam dúvidas de que o SAL será um evento de alta qualidade, que deve firmar-se no calendário cultural de Lisboa e de todos os amantes dos filmes surf.

Na entrevista a seguir, Ricardo conta um pouco sobre os bastidores da realização do SAL e o intenso desenvolvimento e democratização da cultura surf em Portugal nos últimos anos.




1 - Como surgiu a ideia do SAL e quais foram os principais desafios para tornar o evento uma realidade?

Já vinha pensando nisso há uns anos, resolvi passar das ideias à prática elaborar uma proposta prévia com para apresentar a ideia à EGEAC, empresa gestora do Cinema São Jorge, onde irá decorrer o evento.

Ao perceber da viabilidade da iniciativa e interesse na mesma resolvi unir esforços com o meu amigo de longa data Luís Nascimento, que como eu também é arquitecto e surfista e Augusto Baião cuja a ajuda também determinante, foi elaborado um projecto, que foi acolhido com entusiasmo pela EGEAC, dando assim início à aventura.

Como recém chegados a este mundo, os principais desafios foram (e têm sido) sobretudo ao nível da angariação de apoios, tendo a sorte de poder contar com um grupo de empresas e instituições que acreditaram no potencial do festival, ajudando a que aconteça.



2 - Como vocês tem acompanhado a evolução da cultura do surf em Portugal, e mais especificamente em Lisboa, nos últimos anos?

A cultura do surf tem tido, nos últimos anos, um aumento exponencial, devido em grande parte ao factor moda e às escolas de surf, que proliferam em Portugal. No entanto, à parte desse lado mais comercial, é uma coisa interessante ver duas e às vezes três gerações a irem para a água juntas, simplesmente divertirem-se a fazer uma coisa que é prazer puro.

É daí que pensamos que a verdadeira cultura do surf português pode crescer realmente. É hoje em dia algo completamente transversal à sociedade, socialmente e a nível de idades, tornando-se aos poucos algo enraizado na sociedade e não só isoladamente para uma elite.

Lisboa é uma cidade rodeada por praias com excelentes ondas o ano inteiro, com milhares de surfistas, logo é onde se sentem mais no país estas mudanças.


3 - O festival ganhou mais um dia de programação. Quantos filmes integram a lista final de exibição? Qual foi o critério de seleção adotado para os filmes e quais atrações paralelas estão programadas?

O festival ganhou mais um dia exactamente pela qualidade e valor de muitos filmes que se inscreveram. O cartaz contará com 18 longas e 19 curtas, um cartaz talvez demasiado ambicioso para uma primeira edição mas de facto a escolha foi difícil e tentamos incluir o máximo de filmes de acordo com os nossos padrões de seleção, alguns filmes, embora que bons tiveram de ficar de fora infelizmente.

A selecção baseou-se na vontade de ter no SAL filmes que representassem a actual vaga de mudança no mundo do surf, bem como uma abordagem mais artística do tema, não só focado no acto de surfar mas em todo o life style associado e consciência social e ecológica.

Paralelamente aos filmes, o SAL terá concertos de bandas portuguesas, exposição de fotografia de Ricardo Bravo, intervenções de artistas portugueses consagrados e actuações de DJs para rematar as noites.


Confira alguns dos filmes selecionados na página do Sal no Facebook 
A programação oficial completa estará disponível a partir de 01 de junho no site oficial.
Fotos: divulgação SAL

Tora

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Recentemente, o amigo surf-repórter Maurio Borges me intimou a fazer uma parceria para divulgarmos o trabalho de artistas brasileiros ligados ao surf. Percebi então, que ainda não havia publicado no Surf & Cult um perfil sobre algum cartunista de surf e fiquei contente em receber dele um material sobre Alexandre Flores Torrano, o Tora.










Já conhecia um pouco do trabalho de Tora pelo blog de quadrinhos Wavetoon que virou livro em 2007 - no meu conhecimento, o único livro de história em quadrinhos com a temática do surf editado no Brasil em muito tempo.

Produzido em parceria com George Martins e Carlos Steffen, o Wavetoon é, nas palavras dos seus autores: "o lugar sonhado por todos os surfistas. Um lugar onde rolam altas ondas, uma grande camaradagem e aventuras incríveis, protagonizadas por personagens clássicos do mundo do surf".


Observando o portfólio de Tora em seu blog Toratoon, vemos que, apesar de passear por muitos estilos, o seu traço e inspiração correm sempre para os quadinhos de humor juvenil, onde tudo acaba remetendo aos desenhos que todo surfista que se preza fazia nos cadernos da escola.

Neles estão impressos os rabiscos incontroláveis que surgiam para dar vazão aos devaneios diários dos jovens surfistas, estimulados pelo pensamento essencial de surfar as ondas perfeitas imaginadas pela mente, ou de acampar em picos paradisiacos numa surf trip dos sonhos - possivelmente a mais pura tradução visual da magia exercida pelo surf.






























Talvez por este aspecto pueril, o espaço dos quadrinhos de surf tenha sido sempre relegado a margem da própria da pintura e da arte gráfica dita "adulta" relcionada ao esporte - até mesmo do, um dia tão marginalizado, grafite de rua.

Mas a internet ajudou a quebrar a barreira de divulgação e Tora manteve os seus quadrinhos de surf vivos no mundo virtual, ilustrando algumas histórias como "A Cápsula do Tempo" de Mario "Maine" Moraes, além de "A Última Onda" e "Candice" em parceria com o arquiteto George Martins.


Certamente existem muitos cartunistas talentosos por aí prestando serviços para grandes agências e alguns deles, apaixonados pelo surf, tem guardado este hobby secreto de fazer desenhos do universo das ondas. A titulo de comparação, isto é de certa forma uma maneira de evitar a mesma torcida de nariz que alguém dá para um cara que se atribui a profissão de "soul surfer"!
































Na ativa desde os anos 70, além de conhecer Tora através de seus desenhos, podemos saber também um pouco mais sobre a história deste artista gráfico gaúcho, a partir de suas próprias palavras:

 
O início no surf:

Comecei a surfar em 1975 no Uruguai, pois minha família veraneava por lá.  Em 1976 comprei minha primeira prancha de kneeboard (surf de joelho) e continuo até hoje nesta modalidade do surf. Em 1976 comprei minha primeira prancha de kneeboard (surf de joelho) e continuo até hoje nesta modalidade do surf.






















Os primeiros desenhos:

Desde pequeno sempre desenhei. Na minha família tenho várias pessoas ligados a arte.
Acho que foi meu primeiro curso, o de desenho animado, em 1974, numa escola criada por um argentino que veio criar mão de obra especializada no Brasil, coisa que não existia por aqui.



Criava muitos cartoons com o tema surf, pois era meu dia a dia naqueles tempos. Algumas camisetas desenhadas à mão, intervenções nos calções, para dar uma cara mais surf, já que a indústria era totalmente principiante por aqui, e o que vinha de fora (raridade) era cotado em “ouro”.




Pagando as contas:

Meus primeiros trabalhos vieram da arquitetura. Era desenhista “copista” de arquitetura. Fazia toda a arte das plantas necessárias para um projeto arquitetônico. Tudo a nankim, em papel vegetal, uma a uma. Daqui, saía o bem bom das minhas finanças. As primeiras viagens para Santa Catarina, de ônibus. Imbituba, Laguna, Garopaba, Guarda do Embaú.



Como artista gráfico, comecei minhas atividades em 1980 como auxiliar de serigrafia num estúdio de criação aqui em Porto Alegre. Nesta empresa o criador (designer) foi embora (para Florianópolis) e eu preenchi a vaga, já que este era meu objetivo, o departamento de arte. Já desde esta época fiz muitos trabalhos para o segmento surf, que estava em franca expansão.

Os donos desta gráfica eram os donos da South Shore, a primeira loja de surf que teve aqui na cidade. O Vôo Livre e Wind Surf também estavam em voga neste momento, então fiz vários trabalhos nestes segmentos.






 

Vôos solo e revistas:

Acabei abrindo um escritório solo por volta de 84 com amigos em comum, numa casinha bem estilo praia das antigas, no Menino Deus, meu bairro naquela época. A “casinha” como ficou conhecida. Tínhamos uma confecção “Bali”, eu e um artista plástico, mestre em madeiras, Mauro Fuke.



Alguns anos depois, comecei a trabalhar na revista Costa Sul como diretor de arte. Acho que foram dois anos por lá. Além da revista, fiz muitos e muitos trabalhos para as marcas gaúchas do segmento surf neste período. Com o fechamento da revista por volta de 88 trabalhei em escritórios de design até 1995 e com o advento da computação, me instalei em casa num home Office e desde então aqui estou.




















Wavetoon:

Em 2004 eu e dois sócios criamos Wavetoon, um lugar fictício, perfeito para se viver o surf. No formato dos quadrinhos contava sobre o universo surf e sua cultura. Tivemos um blog e um livro lançado em 2007.








Hoje:

Hoje, além de atender a clientes na área da programação visual, continuo fazendo ilustrações ligadas ao universo surf , uma das minhas paixões.

Fiz exposição com este tema, no final de 2011. Em breve estes trabalhos estarão sendo comercializados no site www.suguima.com.br na seção Old Surfer, que terá em breve site próprio. Espaço onde comercializarei meus trabalhos de ilustração.


Crédito de imagens: Toratoons / foto de surf: Barrinha 1982 - arquivo pessoal
Confira o trabalho de Tora nos blogs Wavetoon e Toratoon.

Pegadas Salgadas estréia em Floripa

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O documentário Pegadas Salgadas tem a sua primeira exibição nacional confirmada para o próximo dia 22 junho - sexta feira - as 21 horas no Centro de Cultura e Eventos da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC em Florianópolis.



A exibição faz parte da programação do Florianópolis Audiovisual Mercosul - FAM, o principal festival de cinema de Santa Catarina, que começa no próximo dia 15 com mais de 70 filmes em cartaz, abrangendo a produção latino-americana. Ao longo do evento, o espaçoso auditório da universidade, com capacidade para 1400 pessoas, torna-se a maior sala de cinema da cidade e o público tem entrada gratuita em todas as exibições.











Assim, nada mais justo que a primeira exibição pública de um filme inteiramente rodado em Florianópolis, aconteça de forma democrática na cidade onde foi produzido e com a presença da equipe de produção do filme e muitos dos 25 personagens que construiram suas vidas profissionais em torno do surf em Floripa.



Desde já, estão todos convidados a prestigiar o evento, que começa neste dia 15 com a exibição do documentário A Luz do Tom, sobre o maestro Tom Jobim, dirigido pelo renomado cineasta Nelson Pereira dos Santos.



Serviço:
Exibição do documentário Pegadas Salgadas
Dia 22 de junho de 2012
As 21 horas - duração: 76 minutos
No Centro de Cultura e Eventos da UFSC
Campus Universitário - Trindade - Florianópolis
Entrada Gratuita

Site oficial do FAM aqui / Site oficial Pegadas Salgadas aqui


Pegadas na Europa

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Depois da bem-sucedida estréia nacional com uma concorrida exibição em Florianópolis, que reuniu mais de 1200 pessoas, o filme Pegadas Salgadas agora segue em turnê pelos festivais de filmes de surf que tradicionalmente ocorrem no verão europeu.


















Esta semana foi anunciado que o filme integra a seleção oficial de dois festivais que acontecem no mês de julho: o Portuguese Surf Film Festival em Ericeira, Portugal e o International Surf Film Festivalem Anglet, na França.












O evento português traz o universo dos films de surf pela primeira vez ao balneário de Ericeira, que tornou-se um dos principais destinos de boas ondas do país e é hoje mundialmente conhecido por abrigar etapas do circuito mundial. Depois da estréia mundial do Pegadas Salgadas no festival SAL em Lisboa, esta nova exibição em solo lusitano ocorre no Centro de Cultura Jaime Lobo e Silva, uma bela construção histórica localizada no centrinho da vila.

local do festival em Ericeira















Já o evento de Anglet é talvez o mais tradicional festival de filmes de surf do mundo, e chega a sua nona edição sempre reunindo um público expressivo em exibições fechadas e ao ar livre num dos locais onde a cultura do surf é mais marcante na Europa.

público comparece em peso nas exibições ao ar livre em Anglet - foto: Yann Audic


















Mostrar aos estrangeiros um pouco na cultura do surf de Florianópolis é sem dúvidas uma grande realização para quem esteve envolvido na produção do filme Pegadas Salgadas. Contudo, a ideia principal é continuar trabalhando para conseguir exibir o filme mais vezes no Brasil onde o surf na ilha de Santa Catarina é um tema que encontra apelo ainda maior junto ao público.

cercado pelos personagens Maurio Borges, Zeno Britto e Xandi Fontes, além de Roberto Lima















Pessoalmente, foi uma grande emoção conferir a boa repercussão do filme junto ao público de Floripa onde o filme foi realizado, em especial, receber os muitos elogios dos personagens do filme que compõem a narrativa e puderam se ver na grande tela de cinema, durante a projeção do último dia 22 na UFSC. Que venham novas exibições.

Clique nos links abaixo para conferir o programa completo de cada festival:

- Portuguese Surf Film Festival
  Dia 08 de julho - 18 hs
  Casa da Cultura Jaime Lobo e Silva
  Ericeira - Portugal

- International Surf Film Festival Anglet
  De 10 a 13 de julho
  Espace de l`Ocean
  Anglet - França


Traços Marcantes

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Nos últimos 15 anos, o californiano Erik Abel experimentou o sucesso artístico e comercial com suas pinturas e peças gráficas inspiradas no mundo das ondas.

Reconhecida porsuasjustaposiçõesúnicas depadrões geométricos, texturas orgânicas, cores ousadase ondasdistintas, sua arte ganhou o mundo em anúncios, cartazes, camisetas, pranchas e diversos outros suportes para grandes marcas ligadas ao surf, como Billabong e Reef, e também colaborando com entidades como o Surf Aid.

Criado nas ondas de Ventura e rodeado por toda cultura surf que está impregnada na região, Erik uniu as referências de sua terra natal com o desejo irrefreável de explorar as mais variadas ondas e culturas ao redor do mundo, visitando muitos países ao longo dos últimos anos.

Cruzar o mundo atrás das ondas deu a ele uma bagagem cultural que ele considera fundamental para a sua realização como artista e como pessoa. "Desde que me conheço por gente, a água e a arte tem sido minhas coisas preferidas...", relata ele no inicio da descrição autobiográfica em seu site.



Na entrevista a seguir, Erik conta um pouco sobre suas referências e sobre como manter-se artísticamente relevante em meio ao excesso de informação visual em que vivemos:

1 - Você sente que a imagem do surf está bem representada nos dias de hoje?

Eu sinto que o surf é bem representado artisticamente. Existem muitos estilos diferentes de surf art hoje em dia. Eu tenho a tendência de gravitar para um tipo de surf art menos realística e mais estilizada, ou até mesmo trabalhos que não tenham uma onda representada, mas algum aspecto do estilo de vida do surf incluído. Contudo, eu também me perco em alguma daquelas clássicas cenas de ondas do sonhos que parecem tão reais.



2 - Quais são os teus artistas de surf art favoritos?

Aqui vai uma curta lista de artistas que eu admiro: Spencer Reynolds, Alex Krastev, Ashton Howard, Phil Roberts, Matt Beard, Tom Veiga, Vanessa Janss, Thomas Campbell, Dustin Ortiz, Bryn Hall, Ea Eckerman, Tony Ogle, e é claro, clássicos como Rick Griffin, Jim Phillips, Bill Ogden and Bob Penuelas. E muitos, muitos outros.




























3 - Como você lida com a overdose de informação visual que temos nesta era de comunicação em massa?

Eu me saio muito mal lidando com isso. Eu passo tempo demais olhando sites de arte e design. É bom ver e se inspirar no que os outros estão criando, mas ao mesmo tempo é um tempo valioso que poderia ser utilizado fazendo minha própria arte para outras pessoas ficarem perdendo o tempo delas olhando online. Eu tento deixar que a overdose de informação me inspire ao invés de me oprimir e confundir.



























4 - O que vem a sua mente quando falam do Brasil? Você já esteve por aqui?

Para ser honesto, ao longo da última década o pessoal do departamento de propaganda da Reef tem feito um bom trabalho em me fazer pensar que no Brasil existe nada mais do que lindas mulheres correndo por aí de biquinis o dia todo. Eu nunca estive no Brasil, mas o país está definitivamente na minha lista de lugares para visitar em breve. Eu adoraria ter uma exibição de arte no Brasil algum dia, vivenciar o Carnaval e entubar em um beach break tropical.



Pedi ao amigo Tom Veiga que gentilmente desse um depoimento sobre o seu colega de profissão e eis o que ele teve a dizer:

"Falar do trabalhodo Erik Abel para mim é facil. Gosto muito do trabalho dele, foi o primeiro trabalho que vi de um artista que se inspira nas ondas a ter um estilo bem proprio, ludico e com um estilo unico de se representar ondas.

Além de tudo, ele tem sua paleta de cores, o que reforma a linguagem do seu trabalho. Para mim ele é um dos principais artistas de surfart por ter uma linha só dele... Traços simples, mas marcantes, cores leves, mas representativas, fazem dele um dos principais artistas da atualidade".


























O Prazer da Descoberta

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Ter a chance de traduzir matérias para a edição brasileira de uma publicação do calibre da The Surfer`s Journal representa uma oportunidade enriquecedora de adquirir conhecimento relevante, em verdadeiras aulas sobre a história do surf.

Para esta segunda edição da revista no Brasil, tive o privilégio de poder mergulhar na história primeira prancha de tow-in, shapeada por Dick Brewer para Laird Hamilton. Também pude fuçar "Os Diários Perdidos de Peter Troy", que reúne alguns dos relatos mais significativos sobre viagens de surf jamais produzidos, cortesia deste australiano que representou o protótipo do surfista desbravador.

















Já conhecia a fama do personagem de outras leituras, principalmente pela marca por ele deixada em sua passagem pelo Brasil no ano de 1964, quando entrou para a história como o responsável pelo surgimento do surf moderno por aqui, ao mostrar à turma do Arpoador que era possível manobrar uma prancha, andando até o bico e fazendo cutbacks - a bibliografia oficial afirma, sem medo de errar, que a história do surf no Brasil pode ser dividida entre "antes e depois de Peter Troy".

Mas se Peter Troy mudou radicalmente os caminhos do surf no Brasil, a leitura dos trechos selecionados pela TSJ a partir dos diários originais - que foram publicados na íntegra no livro "To The Four Corners of The World" (Até Os Quatro Cantos do Mundo), ainda inédito em português -, oferece uma visão ainda mais ampla do espírito desbravador de Troy em sua peregrinação por mais de 130 países, sendo responsável pela descoberta de muitos picos de surf em volta do mundo.

França, Namíbia, Peru, Nias, Caribe... a lista é extensa e a cada parada de Troy por alguns recantos onde o surf sequer existia, seus relatos e impressões nos fazem viajar no embalo do prazer proporcinado pela boa leitura. Uma literatura que evoca imagens de um tempo distante, onde a figura do surfista nômade era inexistente e as diferenças culturais se revelavam de forma muito mais intensa - e a descoberta de ondas virgens era coisa corriquerira.

No textos dos diários notam-se o prazer de cada descoberta que motivava o espírito de Troy a sempre seguir em frente em busca de um novo destino. Em cada passagem narrada podemos ter um vislumbre do impacto que o surf iria gerar em lugares tão distantes entre si, que carregam em comum o fato de ser abençoados por boas ondas.















Interessante notar que o mesmo Troy mudaria a vida de tantas pessoas apresentando-lhes o surf, teve ele próprio o seu momento de despertar ligado ao surf: em 1956, quando em um campeonato em sua terra natal, Greg Noll e sua turma da Califórnia apresentaram aos incrédulos ausralianos as pranchas "malibu" que viriam a revolucionar o surf na terra dos cangurus. Foi a partir desta descoberta que Troy decidiu ampliar o seus horizontes num caminho de exploração sem volta, tendo o surf como o seu norte para rabiscar o mapa mundi com suas extensas rotas de viagem nos anos 60.

O resultado está gravado em feitos verdadeiramente épicos... "Tudo isso literalmente uma geração antes do surgimento de surf camps, trips de barco e tudo o mais que possamos associar a uma surf trip nos dias de hoje", lembrou bem a revista Surfer em seu perfil sobre Troy, que morreu em 2008 aos 69 anos.

O seu importante legado se traduz nas muitas manifestações de carinho da comunidade de surfistas espalhados pelos quatro cantos do mundo na ocasião de seu falecimento, ressaltando a marca positiva deixada por Troy por onde passou. E no fim das contas, o que mais pode querer realizar um homem durante a sua vida do que influenciar positivamente o maior número possível de pessoas?






















Em seu blog Lendas do Surf, o shaper Marcelo Kaneca dedica uma página a Peter Troy lembrando que  "ele foi o responsável pelo sepultamento da era das madeirites no Brasil e pela entrada do surf brasileiro na era das pranchas de fibra e das manobras". Nos seis meses que passou no Rio, Troy tornou-se celebridade pelo nível de suas performances nas ondas e contribuiu decisivamente para a modernização das pranchas, inclusive trazendo os primeiros outlines para os aspirantes a shapers locais.

O depoimento do pioneiro surfista e shaper carioca Mário Bração resume bem o impacto desta transformação estabelecida com a chegada de Troy ao Arpoador: “A gente pegava onda de madeirite e nunca tínhamos visto ninguém andar em cima da prancha. Uma vez de pé na prancha nenhum de nós fazia nada além de ir reto no corte. O Peter foi o primeiro surfista que eu vi andando sobre a prancha, indo até o bico e arriscando um hang five."

As impressões de Troy sobre o Brasil por sí só já valem a leitura da matéria da TSJ Brasil, mas para os adeptos do prazer da descoberta, posso assegurar que a recompensa é ainda maior a quem investir na leitura completa de suas andanças pelo mundo.



























fotos: Huck Magazine, Switch Foot, arquivo Peter Troy e divulgação TSJ Brasil

Jazzy Handplanes

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O projeto de arte colaborativa Jazzy Way To End A Day chega a sua segunda edição, reunindo criações de grandes nomes da surf art mundial sob a curadoria do fotógrafo Jair Bortoleto.

A grande novidade desta edição fica por conta do suporte utilizado: os handplanes de madeira do shaper paulista Rodrigo Matsuda, que produziu 15 modelos posteriormente estilizados e decorados por artistas como Andrew Kidman, Ciro Bicudo, Yusuke Hanai, Pablo Ugartetxea, Andy Davis, Guilherme Tonelli, entre outros.

O resultado pode ser conferido a partir do próximo dia 30 de agosto na loja Art In Surf no bairro Moema na capital paulista, onde os modelos de handplanes ficarão expostos durante dois meses - e serão posteriormente comercializados - oferecendo um panorama autêntico da surf art mundial.  



Conversei sobre este projeto e o crescimento do bodysurf no Brasil com o shaper Rodrigo Matsuda, um apaixonado por surf e madeira. A frente da Lasca Surfboards, ele depurou a sua arte ao longo de mais de uma década morando no Japão, onde aprendeu as melhores técnicas de produção de alaias e handplanes com o mestre Yuichi Endo, utilizando a madeira paulownia (kiri japonês) e selador a base de óleo de linhaça.



1 - Como você enxerga a importância desta aproximação entre as artes gráficas e a atividade shaper?

Acho muito legal essa aproximação pois é a união de duas expressões artisticas: a de dar forma a algo bruto (shapear) e a de dar texturas, cores e imagens passando alguma mensagem para as pessoas, mas isso sem interferir um no outro. Tudo isso agrega mais valor a obra.


2 - Como está a aceitação dos handplanes aqui no Brasil? Você acha que as pessoas estão realmente usando eles para bodysurf ou o apelo é mais decorativo?

Estou no Brasil já faz 1 ano e meio, e neste período vi grandes mudanças. No começo confesso que era mais para decoração mesmo, mas nesses ultimos meses muitas pessoas ja estão surfando com Handplanes. Se for para decoração ou para surfar, fico muito feliz isso me traz uma grande satisfação, ou o meu Handplane alegra o ambiente ou faz com que a pessoa deslize sobre as ondas.



3 - Quais as tuas principais fontes de inspiração nas artes e no teu trabalho como shaper?

O Japão, a cultura japonesa é muito diferente, eles são muito observadores, ligados a natureza, sempre buscando o aprimoramento, superação e tudo com muito respeito. Foi onde também aprendi a shapear, observar as coisas simples com seu grau de importância, a natureza e seu o movimento com a água. Tudo isto influência muito em meu trabalho. Sempre tentando buscar a perfeição para ter orgulho daquilo que faço.


4 - Em linhas gerais, quais as principais diferenças entre os modelos de handplane que você produz?

Gosto muito de brincar com os design dos meus Handplanes: fazer uma marchetaria, me inspirar em pranchas mais antigas como: Fish, simmons,egg e stinger... mas sem nunca esquecer do lado funcional. No Bodysurf costumo dividir os Handplanes em 2 grupos: os para ondas grandes são maiores, com rabeta mais estreita e geralmente com canaletas; para ondas médias e pequenas são menores e mais largos, oferecendo maior sustentação na onda.

Fotos: Divulgação Rodrigo Matsuda / bodysurf - surfista Micah Truax, foto Jair Bortoleto   



Vergonha Alheia

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A cena é a seguinte: dia de semana, 10 da manhã, num estacionamento próximo à praia o sujeito está terminando de se secar e colocar a prancha no automóvel, depois de surfar por um par de horas, quando toca o seu telefone celular:

- "Alô"
- "Alô Fulano. Beleza? Te liguei duas vezes pra ver o lance daquele contrato com o cliente..."
- "Ah é? desculpa, mas não ouvi o celular tocando".
- "Que barulho é esse? Tá na praia?"
- "Não, não... to na rua... tive que vir no banco resolver uns problemas. Daqui a uma horinha to chegando no escritório e a gente vê isso, beleza?".
- "Tranquilo, até mais então".
















O diálogo fictício reproduzido acima se repete, com algumas variações, na rotina daqueles que tem o surf como atividade de lazer, condicionamento físico e realização espiritual.

Eu já fui várias vezes o camarada dentro do carro inventando alguma desculpa esfarrapada ao invés de admitir que não atendi às chamadas anteriores pelo nobre motivo de estar surfando. Se estivesse malhando na academia - coisa que não faço nem que me paguem - ou mesmo jogando tênis será que teria esta mesma reação de omitir o fato? Provavelmente não.

Dia desses, por conta da divulgação do filme "Pegadas Salgadas" participei de uma entrevista transmitida pela rádio CBN em Floripa no programa do jornalista Renato Igor. Em certo momento, ele, que revelou ser também um praticante do surf, me inquiriu justamente sobre este comportamento: "Por que motivo muitos surfistas não admitem que estavam surfando quando alguém liga pra eles?"

Eu fui obrigado a rir da pergunta do colega jornalista justamente por me identificar com ela. Elaboramos um pouco sobre a possível resposta e ela acabou resvalando nos velhos preconceitos tão arraigados de que surfar é uma atividade de vadios, embora seja fato notório e consolidado que hoje em dia existem surfistas das mais variadas esferas sociais e profissionais.

foto: Beto Paes Leme

Mas então por que a negação e a vergonha de admitir estar surfando "em horário comercial"?  Em Floripa, as praias com boas ondas estão sempre cheias de surfistas ao longo da manhã e da tarde em dias de semana. Todos vagabundos? Devo ter medo de encontrar um vizinho ou o porteiro no elevador quando estou retornando do surf no fim de uma manhã de terça? Será que devo explicar a eles que trabalho em casa e tenho horário flexível?

Associar o trabalho ao prazer é mesmo um dilema para muitas pessoas. Se a sua atividade profissional envolve diversão, você é desde já culpado - e aqui me recordo de um trecho de Albert Camus no livro "O Avesso e o Direito", que demorei para entender: "Ser feliz é ser já culpado".



O prazer do surf é uma verdadeira promessa de felicidade aos seus praticantes. A energia do oceano, do sol, do vento e demais elementos da natureza despertam reações físicas do que convencionou-se chamar "felicidade". Essa tal felicidade é a experiência que dá sentido à vida, na sensação mental de que qualquer dia está ganho depois de deslizar por algumas ondas, mesmo que as condições não estejam lá essas coisas.

Assim, o surf torna-se um hábito tão desejado por ser uma atividade que impulsiona os seus entusiastas, fazendo com que os seus dias passem mais leves e com algum propósito, por mais trivial que seja. Mas este comportamento torna-se um fardo diante dos olhos frustrados de muitos indivíduos que simplesmente não conseguem enxergar alegria em suas atividades cotidianas - ou que ainda buscam descobrir uma fonte tão palpável de possível felicidade.

"Sim, Eu planejo surfar pelo resto da vida"



Como bem lembrou Teco Padaratz em seu depoimento para o filme Pegadas Salgadas, a imagem do "surfista bon vivant" será sempre um tapa na cara destes individuos, despertando inveja e ressentimento.  Pior ainda o surfista profissional que será sempre o felizardo mimado quando reclamar de qualquer coisa relativa à sua rotina de constantes viagens por paraísos litorâneos: "Vai arranjar um emprego de verdade!", dirão muitos.

De certa forma, neste jogo de aparências que é a vida social, o surfista se inclui no grupo de profissionais ligados às artes como músicos e pintores. "Vai largar o emprego pra formar uma banda?!", se espanta a tia do jovem de 22 anos recém-formado que descobriu que não leva o menor jeito para ser advogado.

Bom, mas a intenção deste texto se limita ao bom e velho surfista amador e à pressão interna e externa sofrida pelo fato dele tirar uma horinha de folga para o lazer de surfar. E aqui podemos comparar o surf a uma boa soneca, uma escapada ao cinema, o sexo depois do almoço, um intervalo para ouvir música, e mais uma extensa lista de atividades hedonistas e imediatistas.

"Um dia ruim na praia é sempre melhor que um dia bom no trabalho"



É claro que a busca do prazer ininterrupto e a qualquer preço mais cedo ou mais tarde certamente irá se revelar uma prisão mental para quem abusa desta premissa. Mas acredito que a pior prisão encontra-se na cabeça daquele ser engessado em um emprego que tornou-se um fardo em sua vida.

Aquele sujeito pouco saudável, sem ânimo nem perspectiva para nada além de acumular dinheiro e encher a cara de comida e bebida no fim de semana, e que durante a semana fica ressentido ao ver pessoas buscando alguns preciosos momentos de felicidade na sua horinha de surf matinal ou alguma outra atividade de lazer.

A estes poderiamos adesivar os seus automóveis com aquele recado simples e objetivo: "Tá estressado, vai surfar!", ou outros um pouco mais elaborados, como estes que ilustram o texto.




Pegadas no OFF

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O filme "Pegadas Salgadas" fará sua estréia em rede nacional de TV a cabo no Canal OFF, na próxima sexta-feira, dia 28 de setembro às 20 horas, com reprises ao longo do fim de semana e no mês de outubro - sempre na faixa OFF Films.



Depois de percorrer alguns festivais de verão na Europa e ter a sua pré-estréia em Florinaópolis no mês de junho, o bem sucedido licenciamento do filme para a TV a cabo representa uma oportunidade valiosa para que o documentário Pegadas Salgadas possa ser assistido na íntegra e em qualidade HD pelos mais de 2,5 milhões de assinantes do canal espalhados por todo Brasil.

O OFF está disponível nos canais 527 da NET HD, 44 da GVT, 538 da Via Embratel HD, 238 da Sky HD, 803 da Telefônica HD, 343 da TVA HD.





Confira abaixo a grade de horários:

28 de setembro - sexta – as 20:00 hs

29 de setembro - sábado – as 4:00 hs e 12:00 hs

30 de setembro - domingo - as  19:00 hs

01 de outbro - segunda – as 1:00 hs e 8:00  hs

19 de outubro - sexta - as 21:30 hs

20 de outubro - sábado - as 5:30 e 13:30 hs

21 de outubro - domingo - as 20:30 hs

22 de outubro - segunda - as 2:30 e as 9:30 hs

Giro Portugal

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Já se foi dito, e aqui não sei precisar o autor original, que "o que faz uma viagem não são os lugares que visitamos, mas sim as pessoas que encontramos pelo caminho". E foi exatamente este sentimento que marcou a minha recente passagem por Portugal.



A convite do evento Greenfest, onde o filme Pegadas Salgadas foi exibido, graças à valiosa indicação do festival Surf At Lisbon, passei uma semana percorrendo locais como Lisboa, Cascais, Estoril, Costa da Caparica e Ericeira - um roteiro que foi um coplemento perfeito para a minha outra visita ao país em 1999, quando conheci apenas o trecho sul entre Faro e Sagres.



Poderia ficar aqui a me debruçar em relatos pessoais detalhados de minhas aventuras por este país incrível - afinal de contas, isto ainda é um blog -, mas prefiro destacar a inestimável camaradagem que encontrei dos amigos do SAL, nas figuras de Ricardo Gonçalves (meu anfitrião oficial) e Luís Nascimento

Foram eles que me emprestaram as pranchas e me levaram para pegar ondas e ainda a explorar a animada vida noturna do Bairro Alto em Lisboa, com seus becos e vielas tomados por bares, restaurantes, clubes de jazz e sítios históricos.



Posteriormente, tive ainda o privilégio de ser acolhido por uma noite na casa de João Valente, diretor da revista Surf Portugal, que me recebeu com grande hospitalidade em sua casa na Ericeira, apesar dos muitos afazeres inerentes a cuidar, juntamente com sua esposa Sandra, de uma bela família de três filhos, sendo dois garotos menores de 5 anos.



Como jornalista, conhecer a redação da publicação conhecida como "a Bíblia do Surf Português" e uma das mais antigas da Europa foi algo significativo. Melhor ainda foi poder trocar ideias com uma figura tão simpática e culta como João e poder surfar no seu quintal, que reúne algumas das melhores ondas do continente europeu - conferindo in loco algumas paisagens clássicas, como o lineup de Ribeira D'Ilhas, tantas vezes apreciado em antigas matérias das revistas de surf brasileiras.



E aqui tive o surf novamente como o grande propulsor de tantas experiências positivas.  Talvez resida aí a grande virtude do amor por deslizar sobre as ondas: o elo universal que ele forma entre os seus praticantes.  Não fosse isto, talvez minha viagem por Portugal se limitasse a percorrer o tradicional roteiro do viajante errante, perambulando pelos pontos turísticos junto a outros estrageiros mochileiros que se conheceram no hostel onde estão hospedados.



Na companhia de verdadeiros amantes do surf, pude vivenciar por alguns momentos o que é ser surfista em Portugal e saborear da melhor forma possível os fascinantes aspectos de sua cultura, com destaque para a educação do povo, a qualidade da gastronomia e o valor da história como fator de consolidação de uma identidade cultural.



Assim, a estas figuras as quais posso hoje chamar de amigos, fica aqui o meu registro em forma de foto-legendas. Apenas mais uma forma de tentar expresar os meus  profundos e sinceros agradecimentos, pois foram eles que tornaram esta viagem tão especial. Ou como eles dizem na gíria local: uma viagem muito giro!




O municipio de Cascais, onde fiquei hospedado nas primeiras noites por conta da exibição do meu filme no vizinho Estoril, fica poucos minutos ao norte de Lisboa e é um aprazível balneário turístico frequentado em grande parte por bacanas do norte da Europa. O surf acontece apenas em ondulações potentes de sul em picos como Cracavelos, na chamada "linha", que liga Cascais à Lisboa.




Com grandes hotéis de luxo, a região atrai especialmente um público de idade mais avançada, com grande fluxo de golfistas, por conta dos muitos campos para praticar umas tacadas. Mesmo passado o movimento do verão, havia bastante turistas por lá buscando o seu lugar ao sol e curtindo a noite nas mesas dos pubs.




Cascais também abriga um Farol de Santa Marta - bem diferente do que conheço tão bem em Santa Catarina -, onde existe um interessante museu sobre os faróis portugueses, que fui visitar. Mais adiante está a chamada Boca do Inferno, uma impressionante fenda num penhasco, que guarda muitas histórias trágicas de suicídios e curiosidades como um registro da visita do famoso mago inglês Aleister Crowley à região, quando se encontrou com Fernando Pessoa. Mais alguns minutos ao norte havia a famosa praia do Guincho, mas infelizmente não tive tempo de chegar até lá.



A Costa da Caparica, ao sul de Lisboa cruzando o Rio Tejo, não é tida como um dos melhores sítios de surf de Portugal, apesar de ser um balneário bastante frequentado pelos surfistas. Mas foi lá que peguei as melhores ondas da viagem, logo no primeiro dia de surf, em ondas de beachbreak para os dois lados com cerca de um metro e cercadas por molhes de pedra.



A curtição foi ainda maior pelo fato de poder experimentar os instigantes equipamentos dos amigos do SAL - uma veloz Fish da marca X-Cult e uma estilosa mini-Simmons do Nico Wavegliders. Criado nestas ondas, Ricardo Gonçalves trazia na fala sorridente a velha máxima do local sobre o seu pico de estimação: "Assim como todas as praias, a Caparica também tem os seus dias!"


Se a horda de turistas de toda a Europa passeava pelos pontos turísticos de Lisboa com suas câmeras fotográficas a tiracolo, por outro lado a população local tomava as ruas para protestar contra a crise econômica e todos os problemas sociais a ela associados. Assim, era impossível ficar alheio às greves diárias em diversos setores essenciais da economia e às muitas passeatas que pude presenciar.

Numa cidade onde a publicidade é bem mais controlada que os grandes centros urbanos brasileiros, as ruas de Lisboa são tomadas por toda sorte de frases espirituosas, que podem estar gravadas numa fachada, num poste ou até mesmo no chão.



 

Personagem máximo da literatura portuguesa, o poeta e escritor Fernando Pessoa  é uma figura onipresente nas ruas de sua Lisboa natal, seja nas vitrines das livrarias, ou nos cafés que frequentava, com direto a mesa reservada ou ainda estátuas como esta, na frente ao café "A Brasileira" no Largo do Chiado onde estive hospedado.




As longas direitas dos Coxos são devéras fotogênicas e é lá que João Valente faz o seu surf check todas as manhãs. Mas entrar e sair do pico não é das tarefas mais simples e por conta disso, João neste dia estava de molho, cicatrizando os arranhões de ouriço que resultaram de sua imprudência ao sair pelas pedras.


Você conhece muito de um homem pela sua coleção de livros e discos: uma amostra da extensa e instigante coleção de João Valente. Na visita à redação da revista em Ericeira, justamente no dia do lançamento da edição de outubro, João se reuniu com sua equipe formada por Diogo Alpendre, Susana Santos e Sandra Marques.


Na Ericeira estão alguns dos picos mais clássicos de Portugal, além da sede européia de grandes marcas da indústria como Quicksilver e Billabong. Ricardo Gonçalves e Luís Nascimento conferem o clássico visual das longas direitas do pointbreak de Ribeira D'Ilhas, que merecidamente tornou-se uma Reserva Mundial do Surf.

Já o título de "Meca do Surf Português" é hoje disputado com Peniche, mais ao norte, que passou a abrigar a principal etapa do circuito mundial em solo português - que aliás está rolando a pleno vapor enquanto escrevo estas linhas.

 

Em Ericeira, estive na Magic Quiver, uma das lojas de surf mais legais que já tive o prazer de conhecer. Sob o comando do simpático Rui Ribeiro, a loja reúne equipamentos e artigos culturais ligados às vertentes mais alternativas do surf (se é que vocês me entendem!). Entre eles, estas lindas aquarelas do ilustrador João Catarino, que ilustram o livro "Tanto Mar" do escritor-surfista Pedro Adão e Silva.




Mas no fim das contas, acabei adquirindo mesmo o livro "No Princípio Estava o Mar", que reúne crônicas de outro grande escritor de surf português - Gonçalo Cadilhe - ao qual tenho o prazer de acompanhar em sua coluna mensal na revista Hardcore.



Outra incursão ligada ao surf foi a inauguração da nova sede do estúdio de design Goma em Lisboa, que faz o design da Surf Portugal e abriga também o fotógrafo da revista, André Carvalho. Lá conheci pessoas interessantes e talentosas, como o videomaker Hugo Almeida que possui belas produções ligadas ao surf e skate e fez este registro do evento.



Em Portugal come-se bem e bebe-se muito bem também. Não comer bacalhau e não provar uma Ginjinha nos bares locais é deixar de experimentar os autênticos sabores locais.



Fotos de abertura por ordem: lineup Coxos; portal marítimo Lisboa; vista panorâmica de Cascais a partir da marina; João, Ricardo e Luís na Ericeira; panôramica de Ribeira D`Ilhas; vista da janela no Largo do Chiado em Lisboa; shorebreak Ericeira e surfista acelerando nos Coxos.

Se ainda queres ver mais fotos da viagem, é só clicar aqui.

A Classe De Jack

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Sei que já faz quase um mês, mas não poderia deixar de registrar o dia em que pude conhecer pessoalmente Jack McCoy, um dos mestres dos filmes de surf que esteve no Rio de Janeiro para apresentar o seu filme "A Deeper Shade of Blue" durante o Festival de Cinema do Rio de Janeiro.

A nobre iniciativa de colocar Jack para falar de maneira informal sobre o seu trabalho, num esquema batizado de "master class", partiu da loja Art in Surf, que reuniu algumas dezenas de convidados no jardim da produtora 6D Estúdio para este encontro especial em um ambiente muito agradável.


Graças ao contato com o amigo Vinicius Araújo do Canal OFF, tive o privilégio de poder conferir este evento e finalmente ver Jack ao vivo - já que até então só o conhecia por meio de uma entrevista por email e algumas outras mensagens ao longo dos últimos anos.

Aproveitei também a oportunidade para conversar pessoalmente pela primeira vez com convidados ilustres como Fred D`Orey e Ricardo Bocão (na foto), que foram as minhas principais referências no jornalismo de surf desde a época que eu era ainda um moleque e devorava suas colunas nas revistas de surf nos anos 90.


Com o auxílio de uma projeção de fotos e vídeos especialmente selecionados no telão, Jack, passeou por sua longa trajetória de realizador audiovisual, mesclando curiosidades e bom-humor, com importantes insights sobre a profissão que exerce desde os anos 70 e como ele mesmo disse "contam a própria história de sua vida".

No cardápio, a paixão inicial e o aprendizado adquirido graças à oportunidade oferecida pela dulpa Greg MacGillivray e Jim Freeeman, o privilégio de trabalhar com Bruce Brown, criador do icônico Endless Summer, e a série de filmes próprios iniciada com Tubular Swells e Storm Riders, passando pelos clássicos filmes para a Billabong, que incluem Green Iguana, The Occumentary e Blue Horizon - produções onde a trilha sonora sempre foi um elemento marcante.



A cada video ou slide, uma lição aprendida e transmitida para o público por este simpático havaiano de 57 anos. Relatos como a descoberta da paixão pelas imagens de surf e as roubadas e vacilos iniciais que quase o fizeram desistir não fossem os sábios conselhos e incentivos que recebeu dos diretores mais experientes com quem teve a sorte de trabalhar.



Na mais incrível e divertida das cenas, Jack mostrou a louca e inconsequente filmagem em três ângulos de um jeep chocando-se contra um espelho em Bali produzida em algum momento na virada dos anos 80/90. Uma produção que por pura sorte não provocou sérios prejuízos ao surfista kamikaze brasileiro que topou dirigir o veículo em questão, sem qualquer equipamento de proteção, vestindo bermuda, camiseta regata e um par de óculos (que o acabou salvando de perder a visão!). Em meio as risadas apavoradas dos espectadores, Jack lembrou que somos repsonsáveis pela integridade física de quem está trabalhando conosco.



E assim, as imagens de toda uma vida dedicada aos filmes de surf foram se sucedendo, com direito a detalhes dos bastidores do incrível comercial da Pepsi que colocou astros do futebol como surfistas, e as espetaculares imagens subaquáticas feitas no Taíti com um inovadora moto submarina, utilizada em A Deeper Shade of Blue e também no clipe da música Blue Sway de Paul McCartney - que rendeu relatos animados de Jack sobre o seu encontro com o ex-beatle que é o seu grande ídolo.



Ao final da explanação, Jack ainda respondeu algumas perguntas da platéia e, quando questionado sobre o que achava dos expoentes das novas gerações de filmakers como Taylor Steele e Kai Neville, não hesitou em dar a sua alfinetada: "Quantas cenas de dentro d'água feitas pelo Taylor Steele você já assistiu?". O silêncio que se seguiu só foi quebrado algum tempo depois com algumas risadas constrangidas da platéia.


E assim, um dos mais longevos e bem-sucedidos diretores de filmes de surf da história encerrou os trabalhos em alta classe, não sem antes espalhar o seu espírito "aloha" com uma dica que vale para qualquer um que pretenda ingressar em alguma profissão que não ofereça garantias de uma boa remuneração: "Ame de verdade o que você faz, ou então simplesmente vá procurar outra coisa melhor para fazer".

Créditos das fotos: divulgação Art in Surf / foto final eu e Jack por Vinicius Araújo


Diário das Ilhas

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Bastou pouco mais que um simples telefonema e de uma hora para outra eu estava acertando os detalhes para embarcar em uma temporada de um mês no Hawaii. Sim, a peregrinação religiosa obrigatória de todo surfista que se preze. As maravilhosas sete milhas do North Shore. O lugar onde tudo começou e para onde tudo sempre volta quando se fala na magia de deslizar sobre as ondas.

Um desejo de mais de 25 anos, desde que ainda moleque comecei a acompanhar as primeiras coberturas das temporadas havaianas nas revistas de surfe e que a cada ano parecia um sonho cada vez mais distante diante das obrigações diárias da vida familiar e profissional.



Mas foi justamente o lado profissional que materializou esta possibilidade e o convite para participar da produção do programa Diário das Ilhas, uma série de espisódios produzidos pelo Grupo Sal para o Canal OFF, foi ao mesmo tempo uma honra, um privilégio e um tremendo desafio. Uma percepção que já vislumbrei muito antes de aterrissar no aeroporto de Honolulu na ilha de Oahu, depois de uma longa viagem e ter que me virar para encontrar o caminho para o North Shore.



E o que posso dizer sobre estes cinco dias em que estive por aqui sem adiantar o conteúdo dos programas que estamos produzindo? Talvez apenas registrar algumas poucas impressões pessoais e imagens aleatórias que consegui reunir em meio a um ritmo intenso de gravações.


Então, vou chover no molhado e dizer que o Hawaii é tudo aquilo que vemos nas revistas, que até agora não achei o crowd nada de tão absurdo, que ontem vi Sunset quebrar clássico com 8 a 10 pés - embora alguns big riders insistam em afirmar que tinha apenas 6 pés de onda e o careca Slater determinar, com a autoridade de quem pegou diversos tubos no local, que o pico estava de gala.



Que acompanhei de perto o evento em Haleiwa com boas onda no primeiro dia e entrevistei toda sorte de surfistas profissionais, desde ídolos como Tom Curren, Kelly Slater e Shane Dorian à talentosa e simpática galera da nova geração brasileira - a incensada Brazilian Storm. Que também troquei ideia com havaianos casca-grossa como Kalani Chapman e um incrivelmente amistoso Sunny Garcia, além de uma extensa lista de personagens bem conhecidos no mundo do surf.


Só não consegui um contato muito bom com um arredio Occy nas duas vezes que o abordei, mas como fã de longa data do "Touro Indomável", só posso agradece-lo por proporcionar alguns flashbacks ao vivo de sua incrível rasgada de frontside, que me levaram de volta ao tempo em que colava posters de revista com suas manobras na parede do meu quarto.


Em geral, senti uma interação muito positiva com todos os surfistas que aqui vivem por alguns meses o supra sumo do sonho de ser surfista. E se uma vez falei que a melhor coisa de ser jornalista é poder ter um motivo para conhecer pessoas que admiramos, aqui no Hawaii a máxima vale mais do que nunca e a lista de personagens só tende a crescer.


E se o pequeno e fundamental detalhe de não ter trazido uma prancha e não haver nenhuma disponível na casa onde estou hospedado tão perto de Sunset - somado à total falta de tempo até aqui para dar pouco mais que alguns mergulhos no mar - pode provocar uma certa frustração, basta um por do sol como este das fotos em Rocky Point para sentir que estes são dias especiais que vão ficar na memória por muito tempo.



Legendas:
Por do sol em Rocky Point / Alejo Muniz rasgando em Rocky Point / + por do sol em Rocky/ Sunny Garcia acelerando para a vitória na bateria dos legends/ vista do palanque em Haleiwa/ Sunset quebrando de jeito/ areias de Sunset/ Sunny Garcia, Kaipo Jaquias, Occy e Tom Curren prestes antes de entrar na água para a bateria dos legends/ Occy e sua rasgada eterna/ perfil dos fotógrafos Paulo Barcelos e Bruno Lemos dois exemplos de brasileiros radicados e respeitados no Hawaii/ por do sol em Rocky Point. 

Muitas das fotos e frames deste post foram feitas pelos colegas abaixo: o cinegrafista Bruno Tessari e o produtor Rodrigo Willon (aka Bombinha), aqui registrados no famigerado Foodland, o único (e caro) supermercado do North Shore.



Diário das Ilhas 2

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São 25 dias no North Shore e simplesmente não encontrei tempo para atualizar o Surf & Cult com registros sobre o surf no Hawaii, em meio ao ritmo intenso das gravações com a equipe de filmagem do programa Diário das Ilhas.

O pouco tempo livre foi investido no bem mais valioso do North Shore: o surf. E assim, aluguei uma quadriquilha meio retrô e pude desfrutar das direitas de Sunset (abaixo) com ondas de seis pés. Difícil descrever a intensa energia que existe neste verdadeiro templo do surf, a medida que se rema pelo canal e chega-se até as ondas.


Do outro lado deste canal mágico estão as direitas de Kemmieland, que pode ser considerada a "onda do quintal de casa" onde estamos hospedados. Mais adiante Rocky Point, com suas constantes ondas de performance e muita gente na água foi palco de muitas filmagens.

E por falar em gente, também pude conferir um bocado delas quando Pipeline e Backdoor finalmente deram o ar de sua graça. Na selva do surf, ficou claro o quanto é preciso batalhar pela recompensa do tubo cristalino, bem em frente ao maior aglomerado de surfistas profissionais de ponta reunidos em uma mesma faixa de praia.

Chegar ao vale sagrado de Waimea e pisar nas areias que são o palco orginal do surf de ondas grandes para assistir à cerimônia de abertura do campeonato Eddie Aikau foi outro momento marcante. E se as previsões indicam que não estarei aqui para ver a baía funcionando, guardo esta lembrança com a certeza de que não podemos ter tudo sempre.

E assim, procuro aproveitar meus últimos dias no Hawaii e deixo aqui alguns registros ilustrados por frames e stills desta temporada no North Shore:




Em um dia comum, a melhor pedida para ver Gabriel Medina no Hawaii é olhar por cima das ondas em Off The Wall; Em dias especiais, ele encontra uns tubos em Sunset, como este, na emocionante (e controversa) final da segunda etapa da Tríplice Coroa.Destaque também no campeonato para o bom desempenho dos brasileiros Alejo Muniz e Jessé Mendes.


As duas faces de Pipeline. Basta decidir se vale a pena pagar o preço de remar com o cardume de surfistas e tentar a sorte, sem hesitar quando a chance aparecer (se ela aparecer).

Criado nas ondas do North Shore, John John Florence surfa bem em Haleiwa e em qualquer outro lugar; Pipeline dá as caras.



O peruano Gabriel Villaran se destaca quando as ondas sobem em Pipeline. O por do sol em Sunset se destaca no horizonte e explica o nome da praia.



Encerrando em grande estilo, com Alex Knost acelerando em Off The Wall; o delicioso Aji Poke de Kahuko; e mais um por do sol daqueles em Sunset. Aloha!


Stills e frames gentilmente cedidos por Daniel Smorigo e Bruno Tessari
; foto da cerimônia do Eddie Aikau por Bruno Lemos.

Vivendo o Sonho

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"I`m living the dream", resumiu bem Gabriel Medina sobre o sentimento de, aos 18 anos de idade, ser premiado no Surfer`s Poll no Havaí por fazer com sucesso aquilo que mais gosta na vida: "pegar onda" (e ainda ser bem remunerado e reconhecido por isso).

Que Gabriel está vivendo o sonho dourado de 99,9% dos moleques que se dedicam pra valer a ter o surf como uma carreira profissional, ninguém duvida. Passar os dias em paraísos tropicais com altas ondas como no North Shore de Oahu é mesmo um privilégio difícil de ser superado, ainda mais quando se é jovem, sem grandes responsabilidades nas costas.

Mas como toda promessa de felicidade, mesmo para alguém com o talento ímpar de Gabriel, este sentimento não será eterno em meio aos altos e baixos naturais da vida, nem tampouco poderá ser vivenciado em sua plenitude pelo restante da horda de surfistas profissionais que vão ao Havaí todo ano em busca desta recompensa.

Medina com seus troféus do Surfer`s Poll - por Rafael Calsinski


















Se a percepção de "emprego dos sonhos" associada aos surfistas profissionais é em muitos momentos desmentida pela realidade implacável do dia-a-dia - onde o encantamento inicial pode sucumbir diante da rotina de treinos e competições e dos insondáveis aspectos psicológicos que afetam cada ser humano de maneira e intensidades diferentes - retornei de minha primeira temporada no paraíso do surf havaiano com algumas impresssões bem consolidadas.

A primeira é de que sim, os surfistas profissionais são criaturas privilegiadas por um estilo de vida "melhor" do que a grande maioria de outros profissionais em diversas esferas sociais e, em geral, sabem reconhecer e ser gratos por isso. Mas isto não significa que eles formem uma casta homogênea de criaturas felizes, que conseguem sempre valorizar os momentos de saúde e bem estar em um local de beleza natural singular e não se deixar levar por pequenos revezes e sentimentos conflitantes, como a própria saturação provocada por ter que ir surfar todo dia e lidar com um crowd intesno. Até aqui, nada mais natural.



E o que dizer dos fotógrafos, cinegrafistas e outros profissionais que formam a outra grande massa humana que se desloca todo ano para o Havaí em busca do sonho dourado do surf? Quando comuniquei aos amigos a minha ida ao Havaí para produzir o programa Diário das Ilhas, ouvi de muitos a expressão "dream job"(trabalho dos sonhos) para descrever o que viveria nos próximos 30 dias.

E assim, em certo ponto passei a me questionar se eu estaria realmente me juntando aos colegas de mídia que acumulam temporadas e mais temporadas havaianas nas costas na experiência de "viver o sonho" que é ter o prazer de trabalhar diretamente com o surf no solo sagrado da prática de deslizar sobre as ondas - realizando o sonho máximo de qualquer surfista?

Olhando para trás nesta recente e intensa experiência posso afirmar que constatei os dois lados desta afirmativa. A verdade básica de que todo profissional de mídia especializada em surf é por consequencia um surfista amador que conseguiu dar um jeito de se manter estreitamente envolvido com a prática so surf através de uma atividade profissional que o permite de alguma forma "viver o sonho" é quase uma unanimidade.



Mas, por um lado, o fato é que, especialmente para os fotógrafos e cinegrafistas de areia - que não entram na água com caixas estanque - o sonho dourado do surf se mostra tão próximo e ao mesmo tempo tão distante, ao ter que ficar a poucos metros das ondas registrando ao longo de horas embaixo do sol o surf rolando em condições clássicas bem à sua frente; estar em um cenário de sonho, sem poder se jogar no mar e desfrutar propriamente destas ondas.

Nas entrevistas realizadas pude constatar que muitos fotógrafos de surf conseguiram superar o dilema de querer fotografar um mar clássico, mas também poder pegar umas ondas. Para aqueles que entram na água constantemente, como Bruno Lemos e Brian Bielmann (video acima), só o fato de estar ali na zona de impacto tomando umas ondas na cabeça já vale tanto quanto surfar pra valer estas ondas. Especialista máximo em quebra-cocos, Clark Little resumiu este sentimento afirmando que "ficar ali no shorebreak tomando caldos é o meu elemento", onde ele se sente verdadeiramente vivo.

Bruno Lemos me contou que hoje em dia o surf fica em segundo plano para ele durante a temporada de inverno no Havaí. Morador do North Shore há 15 anos, ele entende que esta é a época do ano de fazer trabalho render e afirma que hoje consegue sentir tanto prazer registrando um momento especial de surf e natureza, quanto pegando uma onda boa por conta própria.

Arco-irís por Bruno Lemos

Pude presenciar também este prazer do trabalho realizado suplantando a própria vontade de surfar em diversos momentos, como quando o ex-bodyboarder profissional e hoje fotógrafo Paulo Barcellos saía da água e ainda na areia mostrava para o surfista em questão o resultado de uma boa foto registrada em sua caixa estanque. Da mesma forma, o fotógrafo Rafael Calsinski vibrava com o resultado artístico de uma imagem incrível de Alex Knost em Off The Wall e o fotógrafo Daniel Smorigo editava no notebook o registro que havia feito poucos minutos antes de Filipe Toledo voando em Rocky Point.

Por outro lado, também pude constatar que existem fotógrafos e cinegrafistas que aparentam realizar o seu trabalho apenas como uma obrigação e, por incrível que pareça, sequer demonstram possuir aquela gana de tentar arranjar uma brecha para pegar umas ondas no tempo livre, aproveitando um pouco do paraíso do surf que é o Havaí.

Arco-íris por Bruno Tessari

E aí me pergunto o que leva alguém que não pega onda ou não se vê constantemente estimulado pela beleza visual do surf a tornar-se um fotógrafo/cinegrafista de surf? Como pode simplesmente perder-se o encantamento e deixar que as coisas fujam de perspectiva a este ponto? Exemplo de perspectiva: É melhor estar fotografando surf no Havaí, ou ser fotojornalista de ocorrências policiais no Rio de Janeiro?

Certamente tanto na prática do surf como atleta, quanto na prática de alguma atividade profissional ligada à ele, o terrível mal da inevitável rotina pode minar parte do encantamento, e mesmo uma vida de viagens constantes (e aparentemente sem rotina) atrás de boas ondas pode tornar-se um fardo em certos momentos. Isto sempre será determinado pelo que se passa na subjetividade de cada indivíduo. Nesse sentindo, cada por-do-sol e arco-íris mais bonito do que o outro, como os que pude presenciar no North Shore, pouco servem para aplacar uma alma insatisfeita e saturada com a sua rotina de trabalho.

Arco-íris por Rafael Calsinski

Assim, chego ao final deste texto sem uma resposta definitiva sobre o tema levantado nas linhas anteriores. O que posso dizer é que "viver o sonho" não significa se ater a um desejo de felicidade constante em um lugar paradisíaco, que não poderá ser mantido para sempre.

Seja no Havaí ou em qualquer outro lugar, "viver o sonho" é estar atento ao presente, pesando o passado que nos levou até o momento atual e vislumbrando a importância de não deixar que se perca o encantamento do momento, para que, no futuro, não olhemos para trás com ressentimentos por não termos aproveitado melhor um determinado período de nossas vidas.

Owl Chapman em Sunset por Andrew Kidman



















Por fim, minha última lembrança do North Shore talvez tenha algum significdo dentro deste contexto: Era o segundo dia do Pipe Masters e aproveitei o par de horas livres no meio da tarde antes do meu voo de volta ao Brasil para fugir da multidão do campeonato e dar uma última caída em Sunset, o pico situado mais perto da minha casa.

Altas ondas de 6 a 8 pés e, para a minha surpresa, muitas meninas dentro d`água botando pra baixo com autoridade e estilo - fato que comentei com o editor da Hardcore, Steven Allain que também curtia as ondas no pico e concordou de imediato.  Das 3 sessões que tive em Sunset esta era a que oferecia as melhores condições, mas no fim das contas, com uma prancha pequena demais para a ocasião, foi a que peguei menos ondas.

Eis que chegou a hora de sair do mar pra não me atrasar. Fui então remando cada vez mais para a zona de impacto, me colocando em posição de risco em busca de uma última dose de adrenalina. O resultado: uma série bem de oeste entrou com tudo e a segunda onda me varreu com toda a famosa e temida força da espuma de Sunset. E foi com o primeiro e merecido caldo em Sunset que me despedi das ondas havaianas. Foi como experimentar mais uma vez a lição de um ensinamento já conhecido.





















No caminho pela calçada onde os carros estacionam de frente pro pico, lá estava um senhor de idade com óculos fundo de garrafa, encostado num pitoresco carro vermelho com uma reluzente gunzeira monoquilha acoplada no rack observando as ondas. Reconheci a imagem já vista em revistas: era o lendário shaper e local do pico Owl Chapman.

Abri um sorriso ao pensar em quantas vezes ao longo dos últimos 40 anos ou mais ele esteve ali, naquele mesmo calçadão, observando a beleza das ondas quebrando em Sunset nas mais diversas condições. E ali estava a "velha coruja", em pleno 2012, ainda "vivendo o sonho" que o fazia voltar ali dia após dia. Por um instante nossos olhares se cruzaram naquele fim de tarde: eu, um novato surfista de primeira viagem em Sunset e ele, o mestre que aprendeu a dominar o pico ao longo de décadas de dedicação. Quis o destino que Owl Chapman fosse o último surfista que vi em minha passagem pelo Havaí.





Créditos - Foto de abertura: Medina em ação no Pipe Masters/ASP; vídeo Direto do Front #8 por Paulo Barcellos e Claudine Mastrangelo para o site da revista Hardcore; foto de encerramento: Rafaski; foto de Owl Chapman dropando em Sunset surrupiada do blog do Julio Adler (que por sua vez surrupiou de algum outro lugar), foto de Owl Chapman no carro surrupiada de um fórum da revista Surfer (autor desconhecido).
Mais sobre Owl Chapman aqui. Fotos de arco-íris retiradas de Instagrams, Tumblrs e Facebooks dos colegas Bruno Lemos, Rafaski e Bruno Tessari, três profissionais que não perderam a capacidade de se encantar com a natureza do North Shore.


Em Busca da Fórmula Perfeita

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A busca por materiais alternativos para a fabricação de pranchas de surf é um tema instigante por tratar não somente das novas formas de abordar o desempenho obtido ao surfar uma onda, mas também da delicada questão ambiental inerente ao processo produtivo do instrumento básico para a prática do surf.



O recente vídeo sobre o trabalho do shaper e designer carioca Thomas Scott mostrando um pouco do proceso produtivo de belos shapes utilizando o agave como matéria-prima, produzido pela Capim Filmes, reacendeu o desejo de abordar de novo este tema. Mais legal ainda foi descobrir que Thomas está levando o seu trabalho um passo adiante, ao explorar as possibilidades do uso do miriti - uma espécie de madeira extraída de uma palmeira típica da Amazônia - como bloco para as suas pranchas.



Apesar de recusar o batido rótulo de "sustentável", Thomas investe nesta inovaçãoconfiante na possibilidade unir as boas práticas de produção, com o essencial desejo de aprimorar cada vez mais a performance proporcionada por suas ferramentas aquáticas. Para isso, ele conta com uma extensa bagagem de pesquisa em design e materiais, o talento no trabalho artesanal e a paixão pela atividade de shaper, que pode ser conferida na entrevista a seguir:


1 - Conte um pouco sobre a sua formação profissional, idade, onde vive e a sua relação com o surf? 

Minha formação é em Design de Produto, pelo Centro Universitário da Cidade- RJ. Tenho 28 anos. Moro no Rio de Janeiro, em Copacabana. Comecei a surfar com 14 para 15 anos, no Arpoador. Quem me apresentou ao surf foi o meu primo, um pouco mais velho do que eu. Eu ja andava de skate desde criança, então isso ajudou bastante, ja tinha uma base para esportes com prancha.  De lá para cá, pegar onda vem se tornando cada vez mais importante para mim.



 









2 - Desde quando você produz pranchas de surf e como iniciou a experiência com o Agave?

Fiz minha primeira prancha em 2004. Sempre gostei de trabalhar usando as mãos. Na época da escola cheguei a trabalhar como assistente de uma artista que restaurava obras de art. Eu tinha o maior fascinio e respeito pela figura do shaper. Meu primeiro conhecimento sobre o agave foi pelo meu pai. Eu estava precisando fazer um taco para dar o finish nas pranchas e normalmente a madeira que se usa é balsa, que por ser leve não lesiona o ombro com a repetição dos movimentos.

Não encontrava balsa para vender aqui no Rio. Daí meu pai que é biólogo me falou sobre o Agave com uma alternativa à Balsa. Isso foi em 2005. Mas só fui fuçar mais sobre o assunto quando vi as pranchas do (Gary) Linden, John Cherry e do Jim Philips no Swaylocks.com.  Comecei a mapear onde tinha agave no Rio de Janeiro e em 2008 coletei agave o suficiente para fazer um bloco. Na sequencia soube do trabalho da Agave Hunter que foi pioneira na comercialização de blocos de agave no Brasil e no mundo, eu acho. E pesquisando na internet mais recentemente, conheci o trabalho do Miguel Aragão, de Portugal, que já fez várias pranchas de Agave. Muito bem feitas.



3 - Como você vê as experiências que estão sendo feitas com materiais alternativos para pranchas de surf atualmente no mundo?

Na ultima década, houve bastante expeximentalismo e inovação em materiais. Surgiram novas tecnologias como a firewire, desenvolvidas incialmente pelo Bert Burger da Sunova. A firewire conseguiu aumentar o efeito "mola" ou "estilingada"  nas suas pranchas, foi uma grande inovação. As pranchas ocas de fibra de carbono da Aviso, as pop-out da Surftech, longarinas parabólicas, etc. Diferente materiais e diferentes respostas dentro d´agua.

É tambem interessante o resgate de métodos que estavam esquecidos, como as pranchas ocas de madeira que a Siebert faz aqui e lá fora a Grain. Sem falar das Alaias feitas em madeira tambem. Acho que a diversidade é o melhor disso tudo, pois permite diferentes experiencias. Apesar de 90% das pranchas no Brasil serem 6'0 triquilha, hoje voce começa a ter outras opções fora desse paradigma. Isso torna o surf mais divertido e menos pasteurizado.



4 - Como está a sua produção atual de pranchas de Agave e quais modelos mais gosta de fabricar? Você também fabrica modelos com outras madeiras e blocos convencionais?

Minha produção de pranchas é e sempre foi feita em pequena escala. Pretendo manter assim, pois posso fazer cada prancha dando máxima atenção ao design, detalhes e acabamento. A prancha feita assim é um objeto unico e bastante pessoal.

Gosto muito de fazer modelos alternativos à pranchinha standard. Por exemplo, monoquilhas, stubby, mini-simmons e outras releituras de modelos antigos, qualquer coisa que acrescente uma nova experiencia dentro d´agua.

De 2012 para cá, fiz uma transição dos blocos de Poliuretano para os blocos de matéria prima vegetal. No caso o Agave e o Miriti. A prancha de miriti é uma inovação e um desdobramento das pranchas de agave. O miriti  é o pecíolo de uma palmeira nativa. Ja fiz algumas e o resultado foi muito bom, tanto funcionalmente quanto esteticamente. Estarão tambem disponíveis para encomenda em breve.



5 - Quais artistas, shapers e surfistas mais te inspiram?

A lista é longa... O Rastovich e o Donavon são hoje os que surfam com maior plasticidade na minha opinião, são muito criativos na onda e tem estilos bem refinados. Mais próximo de mim tem o John Magrath, que abraçou a idéia das pranchas de Agave e tem um surf muito criativo, espontâneo e plasticamente lindo.  E aí, tem uma lista longa de outros nomes que não dá para colocar todos aqui, mas a maioria da geração mini-model em diante: Barry Kanaiaupuni, Reno Abellira, Larry Berttelman...

Fiquei tambem impressionado com umas imagens antigas que vi na internet do Valdir Vargas no Arpoador. Mas se tiver que escolher um favorito entre todos, não tenho dúvida: Michael Peterson. A sessão dele no Morning of the Earth, é indescritível. Na área do shape, fui muito influenciado pelo Claudio Pastor e por todo o seu trabalho de shape e design.

Embora hoje o contato seja menor, houve muito incentivo quando comecei e ele me passou valores muito importantes. Sou muito grato por isso.  Sem falar do Bernardo Sodré da Umbê, que é meu colega em design e sala de shape. Dividimos espaço deuma marcenaria e sala de shape. A troca de idéias sobre pranchas, surf, design é constante e enriquece demais a rotina de trabalho.



6 - O que a madeira traz de tão especial para o surf?

A madeira tem cheiro, veio, cores e texturas. Gosto de fazer todas as etapas e processos da prancha. Só de saber que cada peça de agave ou miriti levou anos para crescer, faz com que a apreciação por estes materiais seja maior ainda. Achar boas peças de Agave cria um senso de gratidão à natureza, da mesma forma que ficamos gratos quando pegamos um mar muito bom.

Todas as fotos: Divulgação Caturama. Conheça mais sobre o trabalho de Thomas Scott aqui.

Lembranças do Verão Sem Fim

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Traduzir conteúdos para a revista The Surfer`s Journal Brasilé uma tarefa que exige muitas horas de dedicação, mas cuja recompensa vem em dose dupla: no aprendizado da leitura aprofundada sobre diversos temas e personagens relacionados ao surf, e no prazer de poder colaborar para que os leitores brasileiros que não dominam o inglês, possam também desfrutar destes conteúdos da revista.



Agora a colaboração se estendeu para a legendagem dos vídeos exclusivos postados no site da edição brasileira da revista, e foi com grande prazer que traduzi para o português os depoimentos do pioneiro dos filmes de surf, Bruce Brown, num curta-metragem - dividio em duas partes - produzido pelo não menos talentoso diretor Chris Malloy.



Nas palavras do criador de "Endless Summer", o clássico dos clássicos em matéria de filmes de surf, ficamos sabendo de forma simples e direta, curiosidades sobre esta produção e o espírito "do it yourself" (faça você mesmo) que norteou a trajetória bem-sucedida de Bruce e seus parceiros de Dana Point, na Califórina, desde os anos 60 até os dias atuais. Nas imagens de arquivo,  fagulhas do nascimento da cultura surf moderna e da utópica "busca da onda perfeita", que alimentou o imaginário de gerações de surfistas influenciados pela obra de Bruce Brown.

























Clique aqui para assistir a segunda parte do video.
Leia mais sobre Bruce Brown aqui.
Fotos: Cortesia Bruce Brown Films, LLC
Assine The Surfer`s Journal Brasil clicando aqui.


Remada

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Eu remei, mesmo sabendo que olhando de fora aquele mar aberto sempre engana. Que embora as ondas da bancada sem canal não estivessem demasiado altas, a sua constância poderia me impedir de chegar aonde queria.

Eu remei, mesmo com aquele vento nordeste de lado, soprando forte, deixando a formação das ondas bastante prejudicada. Eu remei sabendo que, em poucos minutos, a corrente de leste me levaria a cruzar centenas de metros de norte a sul  naquela eterna faixa de praia em mar aberto, mesmo antes de conseguir – se é que iria conseguir -, varar a rebentação.

E assim eu andei em direção ao norte, na direção do Farol que de tão distante não podia enxergar, que oferecia a proteção que tampouco poderia alcançar em menos de duas horas de caminhada contra o vento. Então em certo ponto eu parei, olhei fixamente para o horizonte e no mar entrei, segurando a prancha com a força das duas mãos para que o vento não a elevasse por sobre a linha do oceano.

Eu remei em meio ao já esperado choque térmico da água gelada trazida pelas ondulações de leste, que sempre ativam, num desconforto inicial, a energia do movimento de aceleração do ritmo das braçadas. Eu remei com vontade na água de tom marrom e espumado, do mar bagunçado e tão conhecido, mas sempre respeitado e imprevisível, onde aprendi a reverenciar os seus movimentos e mistérios.


Eu remei e varei diversas espumas preliminares que vinham ao meu encontro em intervalos cada vez menores. Eu remei e, aos poucos, fui me aproximando da real zona de impacto, onde estavam as ondas que de fora visualizava como o ideal a ser alcançado. Eu remei e submergi talvez centenas de vezes, e forcei os braços na energia de estar vivo e ter um objetivo. E de vez em quando parava para respirar e pensava “não vai dar”, mas ainda havia forças para lutar.

Eu remei e o calor do corpo dentro da roupa de borracha suplantava o resfriamento da água gelada – sim nós podemos suar dentro d’água. Eu remei mais um pouco, depois parei e desisti. Sentei-me na prancha a observar mais uma placa de onda que se fechava tão próxima e inalcançável. Mais uma entre as centenas que observara ao longo daquele dia. E ali por instantes fiquei, refletindo que aquele era mais um daqueles dias em que o mar não me deixaria entrar para deslizar por suas paredes de energia.

Então subitamente me enchi de energia e voltei a remar um pouco mais. E furei cada onda como uma celebração desta certeza, como para apenas demonstrar ao mar que isso pouco importava. Eu remei, pois remando e furando ondas eu estava presente e alerta, vivendo o momento, desfrutando da ligação direta com o oceano. Eu remei para sentir a higiene mental, do banho essencial com a natureza em forma liquida. Eu remei pois assim não precisava mais pensar em nada.

E em certo momento, eu parei de encarar o coeano e apontei minha prancha em direção da praia. E deixei que as ondas bagunçadas me empurrasem de volta ao ponto onde elas passavam por mim apenas como suaves marolas e o vento levantava respingos em meu rosto. Eu havia desistido, mas não estava frustrado, pois havia tentado com toda minha vontade e desejo. E quando voltasse para casa, aquele sentimento de ficar apenas olhando à distância, cogitando se valeria a pena ir para água já teria se dissipado, subsituído pela energia vital da água salgada emanando em meu corpo e minha mente. Sim, é claro que valeu a pena... sempre vale a pena!


E sentado em minha prancha feliz com esta certeza, olhei para o céu e depois fixei-me novamente no horizonte daquele mar aberto. E a tarde que até então caía nebulosa e indiferente, se tranformara.
E muito além das ondas mais distantes, as nuvens mais próximas à linha do horizonte assumiam tons rosados, e de imediato um sorriso espontâneo se formou em meu rosto, na certeza de que amanhã seria um dia de sol e que talvez o vento desse uma trégua e o mar iria se ajeitar.

E assim virei-me novamente para a praia e deitado sobre minha prancha e fui carregado até a areia dura pela primeira espuma que veio em minha direção. E por aqueles instantes eu não estava em confrontação nem com as ondas, nem com o vento e nem com o meu desejo.

Já com os pés na areia, virei-me novamente para onde o vento soprava em meu rosto e avistei minha morada terrestre, na forma um pequeno ponto ao longe. E assim iniciei a minha caminhada de encontro ao vento, seguindo o único caminho possível para casa.

Eu remei em memória das primeiras vezes que ali remei. Das muitas vezes que ainda criança andei a pé pela areia dura, segurando a prancha de baixo do braço com minhas duas mãos, enquanto minhas pernas finas e vacilantes sentiam o castigo das chicotadas asperas de areia carregada impiedosamente pelo vento.



Eu remei recordando o som do vento zunindo em meus ouvidos e querendo me arrancar do chão. Do tempo em que fantasiava com os dias em que conseguiria ser grande o suficiente para varar a rebentação e surfar as ondas de verdade lá fora - não essas espumas reformadas com as quais eu aprendera a ficar em pé numa prancha.

Eu remei na lembrança das tantas vezes em que cruzei aquelas centenas de metros contra o vento, assim com hoje, para depois ser arrastado rapidamende pela corrente do mar ao ponto de partida de minha caminhada. Eu remei por sobre os obstáculos que me fizeram valorizar ainda mais o prazer de deslizar naquelas ondas, nas raras vezes em que a perfeição dava as caras por essas bandas.

Eu remei porque desde aquela época distante, este ambiente me inspirava à reflexão, à fantasia da felicidade plena e da dissipação, ainda que momentânea, dos mais variados problemas. Eu remei em celebração ao desejo de poder voltar muitas vezes a remar neste mesmo mar, e com as ondas salgadas de energia poder me conectar.

Eu remei, pois sabia que haveria dias melhores do que este.
Eu remei, pois sabia que haveria dias piores do que este.

Surf &Água

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No último dia 22 de março, em comemoração ao Dia Mundial da Água, aconteceu uma exibição gratuita do documentário Pegadas Salgadas para um público de 100 jovens estudantes na faixa de 15 anos do Colégio Estadual Laura Lima e da Promenor.

O evento marcou o encerramento da Exposição Surf & Água organizada pelo Projeto CECA - Centro de Educação e Cidadania Ambiental, cuja sede fica no pátio do Floripa Shopping, e contou com a participação de dois personagens do filme: o fotógrafo Marcio David, que fez uma exposição com belas fotos de surf e natureza em Floripa, e o professor de surf Roger Souto Mayor, que, junto com a equipe do Floripa Surf Club, realizou práticas de introdução ao surf para os vários grupos de jovens e crianças que passaram pelo CECA ao longo dos mais de 30 dias de evento.



Esta foi a primeira exibição de "cunho social" do filme Pegadas Salgadas e confesso que estava um pouco apreensivo quanto à receptividade de um público que não tinha quase nenhuma familiaridade com a temática do surf, diante de um filme com alta carga de informação ao longo de seus 76 minutos de duração.

A questão da sustentabilidade está presente em Pegadas Salgadas em dois momentos distintos: na parte em que os shapers discutem a questão da alta carga tóxica e poluente dos materiais convencionais utilizados para a fabricação de pranchas, e, num segundo momento, quando os personagens dialogam sobre o crescimento desordenado de Florianópolis e suas consequencias na poluição das praias e no caos urbano.

No dia anterior à esta exibiçào do filme, por coincidência havia assistido à impactante palestra do fotógrafo canadense Chris Jordan e seu filme "Midway", um registro irrefutável da altamente nociva poluição gerada pelos resíduos plásticos que se acumulam nos confins dos oceanos. Gostaria que todos os jovens que estavam presentes no CECA, pudessem assistir a este video:



Fui intimado a dizer algumas palavras de introdução ao meu filme, cujo tema principal não é propriamente a questão da poluição dos mares e preservação da água. Então, diante de um público de jovens não-surfistas de baixo poder aquisitivo que encontram-se justamente no momento crucial de suas vidas em que devem começar a escolher um caminho profissional, quis chamar a atenção para o fato de que eles iriam ver na tela um panorama sobre a vida de diversos indivíduos que buscaram uma realização profissional em torno de sua maior paixão: o surf.

Quis evidenciar, como, nesta busca, estes personagens fomentaram o desenvolvimento de diversas profissões que hoje compõem o universo em torno do surf. Um desenvolvimento que permite que pessoas consigam alcançar o seu sustento em alguma atividade relacionada àquilo que mais gostam de fazer. Sem querer forçar demais a barra para a utopia do "trabalho que virou lazer", procurei realçar o fato de que, quando buscamos trabalhar com algo que temos afinidade, aumentam muito as chances de sermos bem sucedidos nesta atividade.



Minhas palavras foram reforçadas ao fim da exibição pelo depoimento de Márcio David, ressaltando a importância de sonhar e correr atrás dos sonhos, por mais impossíveis que possam parecer, pois para ele, os sonhos tornaram-se realidade e a fotografia de surf lhe proporcionou uma vida de grandes experiências.

Terminado o evento, fiquei pensando que o encontro poderia ter sido ainda mais frutífero se pudessemos planejar uma exibição com pausas e debates sobre os muitos temas levantados em Pegadas Salgadas - e é o que pretendo fazer se novas exibições deste tipo acontecerem. Mas no fim das contas, se minhas palavras e a exibição do filme foram capazes de inspirar positivamente alguns dos jovens que estavam presentes ao evento, certamente o esforço valeu a pena.


Crédito fotos: divulgação Ceca
Para agendar eventos de exibição do filme Pegadas Salgadas, favor entrar em contato pelo email: lucianoburin@gmail.com

Por quem os Sinos Rasgam

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O campeonato em Bells Beach na Austrália é talvez o segundo evento de surf mais importante do mundo - e certamente o mais tradicional - depois do PipeMasters. A comoção via redes sociais causada pela vitória de Adriano de Souza e o desempenho acachapante de quase todo o time brasileiro na disputa deste ano repercutiu no tom da signficativa alegria gerada em quem de alguma forma acompanha o surf profissional brasileiro.

E foi tomado por essa alegria que me animei a conectar algumas linhas sobre este evento, depois de sei lá quanto tempo sem publicar alguma coisa sobre competições de surf. Porque de vez em quando uma competição de surf é sim capaz de proporcionar uma vasta gama de emoções obrigatórias numa boa sessão de entretenimento - como poucas atracões veiculadas na internet são capazes de fazer.



Tudo começou pra lá de morno nas marolas geladas de Bells e acompanhei o evento com o mesmo interesse do surfrporter Maurio Borges que postou com sua franqueza habitual: "Não tenho mais saco pra assistir aos eventos da ASP na net. Locuções chatas, tanto na Gold como agora em Bell's. Essa fórmula de competição está desgastada faz horas. Agora vejo somente os melhores momentos e olhe lá. Já se foi o tempo de querer "ficar por dentro" de tudo…". Naquela hora meus dedos instintivamente quiseram apertar o famigerado botão "Curtir" para o comentário…

Mas nada como um dia após o outro, ou melhor, dois dias após o outro. Os dois dias finais do evento em Bells foram pra lá de divertidos de assistir e me fez lembrar de premissas óbvias: Não basta ter alguns dos melhores surfistas do mundo se as ondas estão medíocres. Campeonato de surf tem que ter ondas boas e ponto final. E ter muito mais rasgadas agressivas na parede do que piruetas aéreas em junções deformadas. Isto aconteceu em Bells. Um campeonato cheio de emoções e drama.



Ao ligar o webcast, as longas séries de direita marchando me Bells capturaram o meu olhar em algum momento entre o segundo e o terceiros rounds. Das primeiras rasgadas, lembro que para o Alejo Muniz faltou uma segunda onda pra ter chances de virar a bateria. Eis que surge o ápice da emoção, o chamado "momentum" que os gringos tanto falam. Uma vibração crescente que foi se construindo ao longo da baterias.
 
Nas rasgadas de Willian Cardoso e Raoni Monteiro que atropelaram os dois primeiros colocados no ranking mundial, tive a confirmação de que esta manobra desperta no surfista que assiste o impulso de urrar o som do movimento no momento em que ele é executado. Uma descarga de adrenalina pura que ouso chamar de "a essência do surf". Infelizmente meu vocabulário literal não me permite descrever este som com alguma precisão, mas você leitor sabe do que estou falando.

Mas voltando ao aspecto mundano da disputa, o tal do Slater não estava nos seus melhores dias na bateria com Willian. O mesmo Willian que me deixou chateado meses atrás ao assistir a sua eliminação ao vivo em Sunset - uma onda onde tem tudo para se destacar, quando perdeu a bateria e a chance de classificação directa para o WCT, sufrando sem convicção numa prancha que parecia grande demais para a ocasião.

Já no caso de Raoni, que veio na sequência, o camarada Parko estava surfando no topo das suas forças, numa onda feita sob medida para quem surfa com graça e estilo, como dizem. Mas daí voltamos para os momentos em que a vontade de vencer se realiza por meio única forma de agressão sadia que existe. As surras na parede de Bells são tão empolgantes como um gol, um nocaute ou qualquer entretenimento visual que o valha. Raoni venceu por uma margem mínima de vontade e água jogada para o alto,  num duelo com médias superiores a 19 pontos.



Foi um prenúncio do que estava por vir. E aqui chegamos a Adriano de Souza, o mais obstinado de todos os obstinados surfistas brasileiros. Lembro que ouvindo a sempre temerária transmissão dos gringos, eles comentavam a vitória de Adriano no round 3 citando que ele "estava com um patrocínio novo, uma tal de "Peña" ( e não Pena) que "alguém tinha falado era um time de futebol no Brasil, ou algo assim". Sim, esta cnfusão com o apoio que ele tem do Corinthians foi um dos muitos momentos de humor involuntário durante a transmissão.

De nada adiantaria explicar pra eles que a Pena é uma marca de surf brasileira do nordeste. Que á a única empresa nacional do segmento que decidiu apostar suas fichas e bancar o patrocínio do surfista brasileiro profissional há anos mais bem ranqueado. Ok, ele poderia ser um bad boy e não gerar retorno positivo de imagem diria alguém do marketing. Mas quem conhece sua trajetória sabe que a determinação e a disciplina são seus principais atributos.

No ultimo mês de dezembro, peguei o mesmo voo com Adriano do Hawaii até Floripa. Ele voltava de uma temporada curta e pouco produtiva nas ilhas, em meio à turbulência do estremecimento de sua relação com a Oakley e, vá-la, meio que ofuscado pelo sucesso de Gabriel Medina e com a chegada da novíssima geração representada por Filipe Toledo. J;a tinha o visto cabisbaixo em Oahu e depois com um ar de cansaço extremo durante as escalas da viagem. No desembarque em Floripa não resisti e o cumprimentei com a frase "É bom voltar pra casa, não?" Ele sorriu e seus olhos e palavras expressaram o desejo de descanso para recuperar as forças e voltar a luta no ano seguinte.

Eis que pouco mais de 04 meses depois, Adriano está lá tocando ( e quebrando) o sino sagrado do surf com o seu sorriso largo característico. Na bagagem do surfista brasileiro profissional mais bem sucedido de todos os tempos, vitórias improvaváveis sobre prodígios do estilo como Kolohe Andino, o eterno ídolo local Mick Fanning e sobretudo Jordy Smith, que, na minha visão, estava surfando com uma linha e fluidez superior até que a de Parkinson. Mas, infelizmente para talentos natos como Jordy, nem só de estilo se ganha uma competição - aliás, acho que somente com estilo não se ganha quase nada de significativo nesta vida - e Adriano aplicou a sua obstinação ferina às tácticas e sobretudo à preparação física e mental para o evento.



Assim, volto aos nossos famigerados locutores da transmissão em inglês, que resolveram começar a tecer elogios a Adriano quando os australianos já eram carta fora do baralho e o brasileiro chegava como favorito na bateria final contra Nat Young. Eles falavam sobre Adriano ser um dos competidores mais dedicados, que treinou por mais tempo e com maior antecedência em Bells que os seus colegas do touro. De como ele adaptou o seu surf de curvas curtas, para os grandes arcos do surf de linha em ondas volumosas como as de Bells. De como ele era humilde no respeito à história de Bells no reconhecimento dos antigos ídolos do surf australiano e na vontade de aprender a dominar aquela onda difícil, lapidando suas manobras em muitas e muitas horas de surf no pico.

Sim, Adriano nunca será o mestre do estilo, nem o tuberider mais destemido, nem o power surfer que mais levanta água numa manobra, e nem tampouco o mestre de aéreos criativos adapatados das pistas de skate. Sim, Adriano pode ser campeão mundial com base em sua consistência, da mesma forma que Parko - talvez o seu maior antagonista em termos de surfar bem sem fazer esforço - foi no ano passado. E fará isso surfando quase tão bem quanto os seus melhores adversários em cada uma de suas especialidades. E, na maioria das vezes, em condições normais de temperatura, pressão e consistência das ondas, ele só será derrotado por quem conseguir igualar a sua determinação e vontade de vencer.

Isto tudo, somado à experiência adquirida ao longo de muitos anos entre surfando entre os melhores, o coloca no auge do seu jogo e o mais forte candidato do Brasil (ok, junto com o Medina que é capaz de tudo!) a tornar-se o primeiro brasileiro campeão do circuito mundial de surf. Bom, mas certamente você já ouviu esse papo antes.



Então termino esta reflexão tentando me lembrar de algum outro esporte onde o martelado "complexo de vira-latas" do brasileiro seja mais invocado do que no mundo do surf. Em vão. E vejo que, para o bem e para o mal, o aspecto patriótico é o que se sobressai nas redes de opiniões fomentadas tanto no Brasil quanto nas publicações estrangeiras que repercutiram os acontecimentos em Bells. Gosto de pensar que Adriano e seu patrocinador brasileiro estão pouco ligando pra isso.

No meu caso particular, o que fica depois de todas as baterias que assisti neste campeonato é a pura e simples vontade de ir pra água e sair rasgando tudo. Nessas horas posso afirmar com convicção que o surf competitivo é sim um componente importante do prazer de deslizar nas ondas.
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